E a laranjada, é coisa nossa...

Já ouviu falar na lenda da Laranja? Aquela que diz que todas as laranjas consumidas no Brasil  são aquelas que não passaram no controle de qualidade e assim não foram exportadas? Se essa lenda é verdade eu não sei, mas que a laranja é exportada, ahhh isso é. Dá uma olhada na procedência do conteúdo dessa caixinha:



Só não me pergunte o que esse USA está fazendo aí, como pode um negócio ser produzido aqui END BARRA OR em outro lugar? Doidera... mas vamos desconsiderar isso e considerar apenas a Brasilidade do suco, porque está escrito aí que é e ninguém pode negar. E o suco, hummm... é muito bom, eu recomento, tem até gominhos!

=D
Já estou bem, prova disso são as aventuras que fazem parte da minha vida, quer ver?

Eu, sem dúvida sou profissional nesse negócio de passar vergonha. Tudo começou quando eu ainda era criança pequena lá em Colatina, disputava sempre O Mico do Mês com outro campeão de pagação, o Helbert, que no caso é o meu melhor amigo (pura coincidência, né?). Quando me mudei para o Rio de Janeiro, nada mudou, continuei minha vida de atrapalhada de sempre. Me internacionalizei e pensa que isso acabou? Piorou! Qualquer dia desses provoco um conflito cultural e paro na capa do jornal da cidade!

Essa história é mais uma do mundo Árabe, como se já não bastasse a do Mohammed e sua esposa fantasma  (lembra?), mas enfim... vamos aos micos... quero dizer, aos fatos.

Nós Brasileiros de bunda de fora não estamos acostumados a ver pelas ruas homens barbudos vestidos de batas e turbantes ou mulheres de véu ou só com os olhinhos de fora. Em Montreal tem aos montes, e elas começam cedo, menininhas com carinha de 8 anos já usam os seus paninhos na cabeça. Aí aquela história de que a menina usa quando "se torna mocinha" caiu por terra, né? Ouvi dizer que isso é coisa de novela...bom, o fato é que elas gostam de se enrolar, muitas de se vestir todas de preto, e sair nesse sol quente que está fazendo, arrastando o véu por Montreal, como se estivessem nas ruas do Cairo. Isso sem dizer que algumas só passaram a usar o bendito do véu depois que chegaram aqui (porque usar o véu não é obrigatório, mas isso é assunto pra outro post), minha teoria é que elas usam isso pra chamar a atenção, tipo o Brasileiro que se enrola na canga estampada com a bandeira do Brasil, sabe? Olha, sou mulçumana, me destaco na multidão...

Eis que esse mês de agosto foi o mês do Ramadam, que pra gente no Brasil é só uma notícia no jornal e olhe lá, aqui você praticamente faz parte do negócio. Para entender o que é o Ramadam (e consequentemente o que foi o meu mico) eu explicar-lhe-ei-vos o que é isso:

O tchuco-tchuco aí é o Principe Fazza de Dubai
- Ramadam é o nono mês do calendário islãmico, baseado no calendário lunar, dura entre 29 e 30 dias (esse ano começou no dia 1 de agosto). Os mulçumanos fazem jejum durante todo o mês, da alvorada ao pôr-do-sol, o jejum também aplica-se às relações sexuais. O crente deve não só abster-se "dessas práticas" como também não pensar nelas (amram....) e manter-se concentrado em suas orações e recordações de Deus, sendo neste mês a freqüência mais assídua à mesquita. Além das cinco orações diárias, durante esse mês recita-se uma oração especial chamada Taraweeh (oração noturna), aí chegamos ao meu Mico, a tal da oração.

Pois foi que eu estava no metrô e bem na minha frente estava um mulçumano com um livrinho na mão todo escrito com essas letrinhas assim  رَمَضَان . Aí eu pensei: "hummm... é o Ramadam, ele deve estar fazendo a oraçãozinha dele". Fiquei até pensando se ele não deveria estar viradinho pra Meca... a fim de registrar toda essa cultura se manifestando bem na minha frente e chegar em casa com assunto pra contar, liguei a câmera fotografica do celular, mirei no pobre coitado, esperei um momento oportuno e cliquei.

Agora me responde: o que é pior que aquele barulhinho entregador maldito da máquina fotografica, fazendo "clique" bem na hora que você fotografa?

Sem dúvida é o FLASH QUE VOCÊ ESQUECEU NO AUTOMÁTICO!

Todo mundo olhou pra mim depois que, de repente, um clarão iluminou todo o vagão do buraco escuro. O fiel rezante então, me olhou assustado, com  os olhos arregalados como quem vê a hora do juízo final chegar!

E eu? Ahhh, fingi que não era comigo. Olhei distraída para um lado, para o outro... tentei controlar o vermelhão que pelo meu rosto subia, fazendo um gota de suor escorrer pela minha testa, na maior tranquilidade do mundo. Oi? Como? Tô sabendo não...

Imagina se ele vem tirar satisfação comigo? Se ele pergunta porque estou tirando foto dele? Se ele tem um cinto de dinamites na cintura?

Pra minha sorte, o pequeno mulçumano deixou o metrô na parada seguinte. Ufa, que alívio, comecei a desenvemelhar... Que mico! Mais um pra lista.

Dizem as más línguas que durante o período do Ramadam é  também prática não  tomar banho (mas isso parece mais desculpa que penitência, vai). E essa penitência é no período mais quente do ano!!! Acho também que eles não escovam os dentes e nem penteiam o cabelo (mas isso ninguém vê mesmo) e isso explica muita coisa pra mim... mas enfim, agora você entendeu porque a gente participa junto com eles, né?

E ainda no assunto Ramadam, quando esse período acaba, acontece o banquete do término do jejum, é quando a lua nova é avistada no céu, isto quer dizer que o mês de Shawwal inicia-se, dando fim ao mês de Ramadam. No primeiro dia deste novo mês, ocorrem feriados de 3 dias consecutivos (o cara simplesmente falta o trabalho? Quando eu descobrir eu conto, tá?), fazem distribuição de alimentos para os pobres, usam roupas novas e trocam presentes, em outras palavras cristãs, é a Páscoa do mulçumano... e 9 meses depois as taxas de natalidades no mundo árabe crescem vertiginozamente, claro... Rsrs 

E antes que eu me esqueça e que você comece a achar que eu sou mais uma contadora de história do que pagadora de mico, olhe aí a prova da situação:

Não há bem que sempre dure, nem mal que nunca acabe. Parece história da hiena do desenho animado mas é a mais pura verdade.

Não dá pra ser feliz o tempo todo, fato. Até quem tenta ser alegre todo dia, que tenta fazer piada com tudo e que vê o lado bom de toda situação, mesmo esse, um dia fica triste e desanimado. Vem uma nuvem inesperada e deixa tudo nublado. Não dá pra ver o sol, tudo fica cinza e triste. As vezes essa nuvenzinha demora passar, essa sombra  fica no seu jardim por muitos dias, uma semana inteira, as vezes até um mês, as vezes pode nublar uma vida inteira.

Tanto cinza entristece e tudo o que você quer é ficar dormindo, esperando o tempo melhorar. Fechar os olhos e acordar num mundo novo.

Estar em outro país é aprender a conviver com uma inevitável solidão.

Antes eu fazia piada no trabalho e todo mundo ria, cumprimentava o porteiro que adorava falar sobre o futebol, brincava com a caixa do supermercado e pedia um sanduíche no capricho na lanchonete preferida. Agora, Bom Dia é minha máxima em um diálogo com o próximo e todo o resto vai ficando preso no silêncio. Então, me sentindo sozinha e engasgada com minhas próprias palavras, resolvi me deitar e tentar dormir até a chuva passar.

O dia está bonito lá fora, o sol está quentinho, tem passarinhos cantado e a grama está verdinha, mas tudo o que você quer é ficar no silêncio do seu quarto. Passei alguns dias assim, cansada de procurar o que fazer, me recolhi em um retiro solitário, reclamando comigo mesma do vazio que eu econtrava dentro de mim. Simplesmente me atirei nos braços do ócio e fiquei esperando o tempo passar. E os dias foram  passando, como era de se esperar, e eu sem vontade de abrir a cortina pra saber se o tempo já estava melhor.

Na hora de fazer um balanço de todas as coisas feitas até agora, dos muitos dias vividos em algumas semanas, achei que na verdade, tudo o que eu tinha feito, não tinha me dado tantos resultados. Tanto tempo estudando, tanta mudança de vida, e nada até agora era um resultado concreto, algo que eu pudesse ver. Crise existêncial? TPM? Inferno astral?

Saudade.
Necessidade de se expressar.
Andar sem medo, falar sem medo, viver naturalmente, como sempre se fez.
Chega uma hora que não poder fazer tudo isso deixa a mala muito pesada impedindo você de seguir viagem.

Talvez ser imigrante seja isso também. Ficar triste, sentir falta, chorar, sentir medo... Talvez um dia, quando eu não me sentir mais um imigrante, eu saiba que tudo isso fazia parte do processo também.

Mas ficar triste, todo mundo fica, não é verdade? O que não pode é permanecer nessa. A vida segue e é preciso ter alegria para seguir com ela. Sem alegria, pelo menos pra mim, fica impossível sair da cama de manhã. E eu precisei buscar minha alegria pra poder seguir em frente, vasculhando todos os arquivos de promessas de início de ano e colocando numa caixa bem lá no fundo do armário todo o medo. Hoje eu estou melhor, mais esperançosa e espero continuar assim. E se a nuvenzinha passar outra vez, que não demore muito para um novo dia chegar, ensolarado. Como eu disse no começo desse texto, não há mal que nunca acabe.

Em muitos momentos da vida não podemos fazer sozinhos, precisamos que alguém abra a cortina e deixe o sol entrar, e quase sempre, em quase todas as situação, é apenas preciso esperar, que os dias passem e que o tempo ajude a colocar todas as coisas em seu lugar.

Como dizia o grande poeta, Nelson Ned...

Mas tudo passa, tudo passará,
E nada fica, nada ficará...