Essa inexplicável sensação de achar que a minha casa é a casa da minha mãe, láaaaa nos confins de Colatina, essa sensação de olhar para tudo a minha volta e saber que é um sonho conquistado, mas ao mesmo tempo, não se sentir parte dele, essa sensação constante e infinita de ir, querendo ficar, ou a vontade de ficar, querendo sempre ir, que não passa nunca - nunca - ela tem uma explicação!

Há obviamente explicações com embasamento cientifico, que diz: uma vez imigrante, você nunca mais vai se sentir em casa novamente em lugar nenhum. Sempre fica a sensação de que algo está faltando. Que o imigrante sofre da síndrome da perda da memória ruim, e fica somente com as memórias boas do tempo vivido acolá.

Há também as modernidades da tecnologia, que traz aos filhos distantes da pátria mãe gentil, as noticias fresquinhas, seja das manifestações dos rodoviários ocorrida hoje pela manhã na presidente vargas, seja o servidor da prefeitura de Colatina que estacionou sobre a faixa de pedestre. Fatos que nos lembram da violência outrora vivida, da injustiça praticada deliberadamente, das desigualdades e das necessidades básicas de um povo sofrido desde o seu tempo de Brasil colonia.

Há a primavera. Ahhh... a primavera... a manifestação sutil e transformadora da mãe natureza, o brotinho de esperança que surge num coração invernal movido a vitamina D, e os 2 meses de verão que se seguem, que são tão intensos e cheios de festivais, atividades e diversão.

Mas adianta? Adianta tudo isso? Adianta ciência, tecnologia, diversão e relembrança de memória muitas vezes esquecida? Não, não adianta de nada meu povo, a mardita da vontade de ir querendo ficar não passa!

Hoje estava conversando com meu pai, e acabei por descobri o real motivo desta inquietude.

Conversar com ele é raro, quando ele não está atuando nas atividades aposentaduristicas do interior, ou seja, jogando dominó na praça da igreja como seus outros colegas de profissão-aposentado, ele já está dormindo. Ele acorda e dorme com as Colegas ~ Galinhas. Papys madruga ao primeiro cocoricar do Zé Tião, o Galo do vizinho da rua debaixo, aquele penado desgracento que começa a cantar as 5 da madrugada, e dorme com o boa noite do William Bonner.

Mas hoje papys skypou-me para contar as ultimas novidades do mundo colatinense, e papo vai, papo vem, lá pelas tantas alturas do rumo da proza, ele disse:

- Ah Fia* reza pra dar tudo certo. (ele está resolvendo uns por menores por lá)

- Claro pai, rezo sim, acendi até uma vela hoje. (pessoa de fé, muito lindo)

- Ahhh, reza mesmo. Eu também rezo pra você todos os dias. Peço ao Divino Pai Eterno todos os dias pra você voltar!


Parem as máquinas! Parem o mundo! Reúnam todos os cientistas! Chamem Robert Langdon! Descobrimos o enigma da humanidade!!!!!

"Reza todos os dias para EU VOLTAR!"

Num estilo bem Vera Verão disse:

- Pééééra aí! Deixa eu vê se entendi... Então eu fico aqui toda tristonha, cantando "saudade da minha terra" todo santo dia, fazendo terapia, enquanto o culpado é você! E eu esse tempo todo achando que o problema era eu, a ovelha desgarrada, a madalena arrependida, a deslocada socialmente, A FILHA PRODIGAAAAA! Paaaaaai!!!!!
 
Meu pai, é claro, teve um ataque de risos. Que eu até agora não sei se foi por que ele acabou deixando escapulir a vontade dele que eu volte, ou por ter quebrado uma teoria fundamentada da ciência humana.

Lembrando que nem meu pai, nem minha mãe, me cobram visitas ou se eu vou voltar. Eles sabem que a viagem é longa e cara, que depende de férias do trabalho e outros fatores. Eles sabem que já é suficientemente difícil para todas as partes ficar distante. Não tomar café juntos pela manhã, não reclamar um do outro, não estar juntos nas festividades familiares ou nos aniversário. Então porque cobrar? Então eles nunca, nunca cobram.

Mas dessa vez ele deixou escapar, e a cara dele foi impagável!

- Pai, pesquisadores escrevem teorias sobre isso, imigrantes debatem esse tema diariamente, e eu aqui pesquisando, lendo, fazendo terapia, tentando entender!!!! Enquanto tudo na verdade e obra e intervenção celestial do Divino!
 
Senti uma certa alegria no olhar de papys quando disse que voltar é um assunto que entrevem meus pensamentos vez e sempre. Acho até que ele deu uma olhada de rabo de olho pra imagem do Divino Pai Eterno que estava ali de lado e deu uma piscadela: "Ae Divino, tá funcionando!"

Mas agora pelo menos sei que essa vontade de ir querendo ficar que nunca passa não precisa mais de terapia, nem pesquisas, nem longos debates intelectuais, agora eu sei que a culpa toda é da novena do Divino Pai Eterno que meu pai faz todo santo dia!

E você, imigrante amigo, que sofre, já sofreu ou que ainda sofrerá desse mal, lembre-se, alguém em algum lugar poderá estar fazendo a novena do Divino Pai Eterno pra você também!

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* Fia - s.f., derivação regressiva de Filha, maneira Brejeira do Papys se referir a sua filha, nesse caso, eu mesma.


(derivação regressiva de filhar)

"filha", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/filha [consultado em 16-05-201
Diazinhos quentes começando a virar rotina, yupiiiiiiii
Hoje mesmo pela manhã estavam 18 graus celsius po-si-ti-vos.

E 18 graus é quente?????
Cariocas lendo essa frase agora:


Sim, é quente sim meu povo, eu tô vivendo abaixo de zero há 6 meses!!!! Usando casaco, luva, touca e bota há 6 messes!!! 6 m-e-s-e-s!

Eu sei, eu sei.. 18 graus no Rio de Janeiro (ou em Colatina) e motivo para ficar em casa, enrolado no edredon comendo um fondue (no sentido gastronomico). Mas aqui no Canadá não, ahhh não, aqui 18 graus positivos é uma maravilha amiguinhos. Com sol ainda, é PARADISE. Dá para sair na rua de chinelo, de camiseta, dá pra sentir o vento no rosto sem morrer, dá pra pisar na graminha verde, dá pra trolar os esquilos fazendo barulho com sacolas, os passarinhos voltam a cantar... ahhh gente, dá até pra gostar mais desse país assim desse jeito...

E nessa época, a gente fica assim, olhando a temperatura e a previsão do tempo, abrindo a janela e vendo qual é do vento lá fora, que as vezes ainda está frio pra sair pimpão sem um casaquinho, mas as vezes tá calorzinho que dá até pra se atrever de camiseta regata. E na primeira possibilidade a gente se joga lá fora, vai sem rumo mesmo...

É nessa época também que as primeiras florzinhas da primavera desabrocham. A primeira a chegar é a Tulipa. Os canteiros de Tulipas são lindíssimos, mas são passageiros. Se você quer vê-los é preciso ser rápido. Tem que sair de casa mesmo que esteja frio e com chuva! Os canteiros duram coisa de 1 semana, e as bichinhas não esperam não, deu a hora elas desabrocham, mesmo porque elas estavam lá debaixo da terra esperando seu momento de esplendor desde outubro (essa história merece um post!).

Antes de viver aqui, eu havia visto Tulipa somente no mercado, eram feinhas e beeeeem carinhas.

Mas aqui não minha gente. Tulipa nesse país é mato. E dá em todos os lugares.

No canteiro maltratado:



no pedacinho de terra entre uma cerca e outra


 bem embaixo da placa



 escondidinho e solitário no meio do árbusto...



 Mas tem canteiro organizadinho, divididinho e bunitinho também:






Lindo, né?
E agora é a vez das cerejeiras, lindas, perfumadas, encantadoras... mais isso já é assunto para outro post!
Estou vivendo há mais de 6 meses debaixo do meu casaco e alimentando meu coração invernal com vitamina D 10000ui, 3 comprimidos por dia. No calendário a data diz, é oficialmente Primavera. #SóQueNão!

Ainda tá frio, ainda tem neve no chão, ainda tem previsão de neve (e neva) ainda tenho que usar aquele casaco e ainda tem temperaturas bemmm baixas. Tô feliz? Tô não amiguinhos... quero andar na rua, fazer uma caminhada, respirar profundamente um ar puro, sem-morrer-de-pneumonia! Quero usar short e camiseta, quero andar livre sem me preocupar com a distancia que vou percorrer. Quero ver as árvores com folhas, as brotinhos surgindo com flores e a grama verdinha como as vaquinhas felizes. Mas cadê a primavera amiga para a nossa alegria???

Não dá para acreditar, a gente fica esperando a primavera chegar, achando que quando ela chegar "oficialmente" as coisas vão mudar. Mas não muda nada, ela chega e continua frio! Socorro!!!

Hoje mesmo, quase junho, e a temperatura estava pela manhã 5 graus! O céu nublado quase sempre e chovendo muito.

A primavera, essa safada, já começou faz tempo, e a minha esperança já estava quase sendo consumida pelo desanimo, foi quando finalmente eu vi. Ali estava ele. Discreto, escondidinho na paisagem cinzenta, ainda tímido... o brotinho!



Gente, vocês não fazem ideia do que é ver um brotinho! Eu sei que no Brasil essa passagem das estações nem existe, por isso talvez fica difícil entender a alegria do pobre.

Mas a felicidade é tamanha, que a vontade que dá e de reverenciar o brotinho, fazer a dancinha da alegria em volta da plantinha, dar beijos no galhinho, abraçar a árvore e  falar pra todo mundo que está passando: "olham, venham ver, é um brotinho! Ele chegou! Vamos festejar!"

E então todos se abraçam e começam a dançar alegremente em volta da árvore.

"Let the sunshine, 
Let the sunshine in
The suuuuun-shine iiiin"


Pelo menos na minha imaginação isso é bem bonito!

Mas voltando ao assunto.... E o canto do passarinho, gente? O primeiro "piu" que a gente ouve dos primeiros que voltam do sul, ecoa no coração da gente. E eu não estou exagerando.

Chegou a rolar uma lagrima de emoção aqui... 

E então a esperança se renova. E a magia acontece em poucos dias. Em uma semana a paisagem cinzenta começa a ganhar cor, tons de verdes, botões de flores... e então uma bela tarde, finalmente fazem 18 graus com sol e finalmente-mente você sai na rua, de camiseta e short, se sentindo meio estranho, desengonçado com essa nova endumentária, mas feliz! Finalmente feliz! E sem comprimidos!

E tudo começa a ser diferente! A rua fica colorida. A prefeitura coloca vasos de flores nos postes, os bares e restaurantes abrem os pátios, é finalmente a Primavera! Vamos rolar na grama, vamos ser feliz!


E que venha o verão!!!




Esse clipe é exatamente o que eu quero dizer! Eu dançando e as folhinhas nascendo! hahahahahahahaha