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Uma coisa que eu aprendi com essa aventura: imigração é para os fortes. O estado emocional da pessoa tem que ser forte, nível Hulk sabe, aquele cara verde?
Têm dias em que você só quer fechar os seus olhos e desejar fortemente que alguma força extraordinária, alguma força extraterrestre, alguma magia de Hogwarts, te leve para o aconchego da sua família.
Coisas que nunca foram um problema antes, podem se tornar um monstro por aqui. Sociedade, aceitação, sociabilidade....
Hoje pela manhã eu me surpreendi ao me olhar no espelho. Não via meus olhos inchados assim há muito tempo. Chorei, minha gente. Chorei por horas e horas. Chorei no caminho pra casa. Chorei no metrô. Chorei na rua. Se vc mora em Toronto e viu uma galega de nariz vermelho aos prantos, prazer em conhecê-lo, era euzinha mesmo.
Eu me considero uma tough girl. Choro em apenas duas ocasiões na minha vida: Quando eu assisto filme da Disney (gente, aquelas trilhas sonoras partem meu coração) ou quando um animal morre num filme (choro e ainda preciso fazer um exercício mental pensando que é mentirinha, que o bichinho ta vivo, sério!).
Nunca, nunca na minha vida acho que perdi o controle e chorei em publico como dessa vez. Mesmo porque eu já não sou nenhuma Gisele Bundchen, quando choro então, socorro. O máximo é ficar com os olhos marejados, o máximo do máximo é ter uma lagriminha tímida no canto do olho, que obviamente é seca ao primeiro sinal de atrevimento dela em escorrer pelo rosto.
Mas ontem, eu não me contive, e...
chorei, chorei, chorei...
até ficar com dó de mim...
Eu sou uma pessoa que gosta de fazer piadas e brincadeiras o tempo todo. E piada em inglês não é tarefa fácil. Tem que ser rápido, pronunciar as palavras certas, ter o tempo, conhecimento da cultura, da atualidade... enfim, um grande desafio. Geralmente as pessoas riem mesmo são dos meus erros, de quando eu troco palavras, da minha pronuncia... até aí tudo certo, eu penso que se estão dando rizadas e fazem piada de alguma coisa que eu falo ou do meu sotaque, é porque eles gostam de mim e se sentem à vontade comigo. E mesmo que isso não seja verdade, eu prefiro acreditar que sim, é a melhor forma de se sentir aceito e não ficar depressivo. Eu acredito nisso para o meu próprio bem e para o bem da minha alma.
No entanto, ontem eu passei por uma situação onde todo mundo começou a fazer piada do que eu falava. Eu estava levando tudo muito bem, até um ponto que eu ouvi uma pessoa falando para outro “o sotaque dela é muito forte, muito difícil de entender”. Aquilo me atingiu forte no peito, me deu um nó na garganta, e eu não pude resistir, cutuquei o ombro dele, entrei na conversa e disse: “olha, eu posso não falar inglês direito e meu sotaque ser uma meda pra vc entender, mas eu entendo o seu inglês muito bem. Pense nisso quando vc for falar de alguém pelas costas”. Ele não parou de fazer piadas, e boa parte do grupo começou a faze-las também. Essa não foi a primeira vez que um comentário desse me faz me sentir mal desse jeito, um dia, depois de algumas cervejas, um outro colega falou “ela fala o que quer e as pessoas fingem que entendem e fica por isso mesmo", também já me falaram que o meu sotaque é difícil de entender, mas por que eu sou bonitinha, as pessoas acham fofo.
Eu já ouvi tudo isso, e um pouco mais. Sempre deixei pra lá, sempre tentei ignorar, levar na brincadeira, deixar que isso de alguma forma ficasse esquecido e não me atingisse emocionalmente. Mas ontem, ontem foi muito difícil, foram 6 pessoas num grupo de 8 fazendo piada de mim, não foi fácil. As piadas machucaram e me ofenderam. E mesmo depois de demostrar que eu não estava mais achando graça daquilo, ele não pararam. Eu tinha intensão de ficar um pouco mais, estender a noite com os colegas, mas depois dessa, não deu. Eu estava me sentindo mal e desrespeitada. Eu simplesmente peguei minha bolsa e fui embora. Ao sair do bar, eu pensava comigo mesmo, vai rápido metro, vai rápido, eu quero chegar em casa logo e chorar no meu travesseiro. Mas eu não fui forte o bastante, e só de pensar naquele sentimento, as lagrimas caiam pelo rosto incontrolavelmente, chorei por todas as 21 estações do metro.
Eu sei, eu tenho motivos de sobra pra ignorar os comentários. Eu faço isso sempre. Também tento buscar nas criticas um motivo para melhorar, descobrir onde estou errando. Eu tento pedir as pessoas para repetirem e me corrigirem. Mas isso tudo é muito dificil gente. Eu estaria mentindo pra vocês dizendo que eu me sinto totalmente à vontade fazendo isso. E um exercício contante de humildade que precisa ser praticado. Por mais que a pessoa zoe da sua cara, e mesmo que isso tenha sido de uma maneira bem rude, tem que entrar na brincadeira e tentar tirar vantagem de alguma forma. A certa idade ter que começar tudo outra vez, você que tinha sua família, amigos, uma profissão, uma carreira, que conduzia reuniões... começar do zero, ser corrigida quase que diariamente, é muito difícil. Mas eu sei que eu só vou evoluir, se eu aprender. E isso é parte do processo de aprendizagem.
Eu também tento pensar onde eu cheguei, no que eu conquistei nos últimos anos, no trabalho e cargo que tenho, no meu nível profissional. Eu penso que se cheguei onde cheguei é porque eu sou boa no que eu faço. Eu sei que eu preciso pensar nisso. Mas gente, não é fácil. Ontem eu queria poder deitar na minha cama, na cama lá na casa da minha mãe, e chorar. Eu queria hoje de manhã, poder acordar e tomar café com ela, e ouvir ela dizer que eu devo ignorar tudo isso, e lembrar que eu cheguei onde eu cheguei não foi atoa, nem sorte, nem acaso. Eu posso dizer que tenho amigos queridos aqui, que me consolam, que me oferecem o ombro, que me confortam, mas não é a mesma coisa.
Tem que se forte gente, tem que ser muito forte. Se sentir sozinho numa terra estrangeira, não ter o colo da mamys pra chorar, não ter o consolo de familiares e amigos que você confia, é muito difícil. E as vezes vai exigir esforços extraordinários da sua parte para superar sozinho essas situações, como o que eu tenho feito agora.
O Canadá é um país maravilhoso com pessoas muito educadas, mas não é o paraíso, tem gente preconceituosa sim. Tem homens machistas, tem racistas, tem invejosos e pessoas ruim. É claro que tem pessoas maravilhosas também, a maioria dela, e naturalmente você vai identificando essas pessoas no seu caminho e se afastando delas. É o que eu tenho feito.
Eu decidi falar sobre isso no blog, porque as pessoas a vezes sonham em morar no Canadá e acham que a maior dificuldade é o frio. O frio sem duvida está na lista das 3 coisas mais difíceis pra mim, mas não é a primeira da minha lista. O idioma sem duvida é. O idioma faz com que eu seja menos do que eu costumo ser. Eu sou menos engraçada, eu sou menos rápida nas ideias e nas respostas, eu sou menos nas referencias culturais, eu sou menos articulada e no meu vocabulário, eu sou menos eu. Pense nisso como uma barreira que você terá que superar, principalmente se como eu você nunca estudo fora na adolescência e foi aprender inglês na marra na idade adulta.
Eu tenho medos, muitos. As vezes acho que nunca vou conseguir aprender. As vezes acho que meu otimismo é só uma autodefesa do meu subconsciente para continuar a luta. Tem vezes que a vontade e pegar o avião e ir embora para os perto dos meus. Mas a gente tem objetivo na vida, né? E só quem percorreu um longo caminho pra alcançar alguma coisa sabe o que é ter que desistir. Eu não vou desistir obviamente. Não fiz isso por coisas maiores do que uma piada de um infeliz. Chorei sim, ontem. Mas hoje eu já estou melhor e bola pra frente que a vida continua. Espero sinceramente que meu post tenha ajudado alguém e gente, sempre que um imigrante tristonho precisar, tamos aí! Deixe seu comentário, mande e-mail, comunique-se! O brigadeiro de panela eu garanto :D
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Chorei, chorei
Até ficar com dó de mim
E me tranquei no meu quarto
Tomei o calmante, o excitante
E um bocado de gim
Uma coisa que eu aprendi com essa aventura: imigração é para os fortes. O estado emocional da pessoa tem que ser forte, nível Hulk sabe, aquele cara verde?
Têm dias em que você só quer fechar os seus olhos e desejar fortemente que alguma força extraordinária, alguma força extraterrestre, alguma magia de Hogwarts, te leve para o aconchego da sua família.
Coisas que nunca foram um problema antes, podem se tornar um monstro por aqui. Sociedade, aceitação, sociabilidade....
Hoje pela manhã eu me surpreendi ao me olhar no espelho. Não via meus olhos inchados assim há muito tempo. Chorei, minha gente. Chorei por horas e horas. Chorei no caminho pra casa. Chorei no metrô. Chorei na rua. Se vc mora em Toronto e viu uma galega de nariz vermelho aos prantos, prazer em conhecê-lo, era euzinha mesmo.
Eu me considero uma tough girl. Choro em apenas duas ocasiões na minha vida: Quando eu assisto filme da Disney (gente, aquelas trilhas sonoras partem meu coração) ou quando um animal morre num filme (choro e ainda preciso fazer um exercício mental pensando que é mentirinha, que o bichinho ta vivo, sério!).
Nunca, nunca na minha vida acho que perdi o controle e chorei em publico como dessa vez. Mesmo porque eu já não sou nenhuma Gisele Bundchen, quando choro então, socorro. O máximo é ficar com os olhos marejados, o máximo do máximo é ter uma lagriminha tímida no canto do olho, que obviamente é seca ao primeiro sinal de atrevimento dela em escorrer pelo rosto.
Mas ontem, eu não me contive, e...
chorei, chorei, chorei...
até ficar com dó de mim...
Eu sou uma pessoa que gosta de fazer piadas e brincadeiras o tempo todo. E piada em inglês não é tarefa fácil. Tem que ser rápido, pronunciar as palavras certas, ter o tempo, conhecimento da cultura, da atualidade... enfim, um grande desafio. Geralmente as pessoas riem mesmo são dos meus erros, de quando eu troco palavras, da minha pronuncia... até aí tudo certo, eu penso que se estão dando rizadas e fazem piada de alguma coisa que eu falo ou do meu sotaque, é porque eles gostam de mim e se sentem à vontade comigo. E mesmo que isso não seja verdade, eu prefiro acreditar que sim, é a melhor forma de se sentir aceito e não ficar depressivo. Eu acredito nisso para o meu próprio bem e para o bem da minha alma.
No entanto, ontem eu passei por uma situação onde todo mundo começou a fazer piada do que eu falava. Eu estava levando tudo muito bem, até um ponto que eu ouvi uma pessoa falando para outro “o sotaque dela é muito forte, muito difícil de entender”. Aquilo me atingiu forte no peito, me deu um nó na garganta, e eu não pude resistir, cutuquei o ombro dele, entrei na conversa e disse: “olha, eu posso não falar inglês direito e meu sotaque ser uma meda pra vc entender, mas eu entendo o seu inglês muito bem. Pense nisso quando vc for falar de alguém pelas costas”. Ele não parou de fazer piadas, e boa parte do grupo começou a faze-las também. Essa não foi a primeira vez que um comentário desse me faz me sentir mal desse jeito, um dia, depois de algumas cervejas, um outro colega falou “ela fala o que quer e as pessoas fingem que entendem e fica por isso mesmo", também já me falaram que o meu sotaque é difícil de entender, mas por que eu sou bonitinha, as pessoas acham fofo.
Eu já ouvi tudo isso, e um pouco mais. Sempre deixei pra lá, sempre tentei ignorar, levar na brincadeira, deixar que isso de alguma forma ficasse esquecido e não me atingisse emocionalmente. Mas ontem, ontem foi muito difícil, foram 6 pessoas num grupo de 8 fazendo piada de mim, não foi fácil. As piadas machucaram e me ofenderam. E mesmo depois de demostrar que eu não estava mais achando graça daquilo, ele não pararam. Eu tinha intensão de ficar um pouco mais, estender a noite com os colegas, mas depois dessa, não deu. Eu estava me sentindo mal e desrespeitada. Eu simplesmente peguei minha bolsa e fui embora. Ao sair do bar, eu pensava comigo mesmo, vai rápido metro, vai rápido, eu quero chegar em casa logo e chorar no meu travesseiro. Mas eu não fui forte o bastante, e só de pensar naquele sentimento, as lagrimas caiam pelo rosto incontrolavelmente, chorei por todas as 21 estações do metro.
Eu sei, eu tenho motivos de sobra pra ignorar os comentários. Eu faço isso sempre. Também tento buscar nas criticas um motivo para melhorar, descobrir onde estou errando. Eu tento pedir as pessoas para repetirem e me corrigirem. Mas isso tudo é muito dificil gente. Eu estaria mentindo pra vocês dizendo que eu me sinto totalmente à vontade fazendo isso. E um exercício contante de humildade que precisa ser praticado. Por mais que a pessoa zoe da sua cara, e mesmo que isso tenha sido de uma maneira bem rude, tem que entrar na brincadeira e tentar tirar vantagem de alguma forma. A certa idade ter que começar tudo outra vez, você que tinha sua família, amigos, uma profissão, uma carreira, que conduzia reuniões... começar do zero, ser corrigida quase que diariamente, é muito difícil. Mas eu sei que eu só vou evoluir, se eu aprender. E isso é parte do processo de aprendizagem.
Eu também tento pensar onde eu cheguei, no que eu conquistei nos últimos anos, no trabalho e cargo que tenho, no meu nível profissional. Eu penso que se cheguei onde cheguei é porque eu sou boa no que eu faço. Eu sei que eu preciso pensar nisso. Mas gente, não é fácil. Ontem eu queria poder deitar na minha cama, na cama lá na casa da minha mãe, e chorar. Eu queria hoje de manhã, poder acordar e tomar café com ela, e ouvir ela dizer que eu devo ignorar tudo isso, e lembrar que eu cheguei onde eu cheguei não foi atoa, nem sorte, nem acaso. Eu posso dizer que tenho amigos queridos aqui, que me consolam, que me oferecem o ombro, que me confortam, mas não é a mesma coisa.
Tem que se forte gente, tem que ser muito forte. Se sentir sozinho numa terra estrangeira, não ter o colo da mamys pra chorar, não ter o consolo de familiares e amigos que você confia, é muito difícil. E as vezes vai exigir esforços extraordinários da sua parte para superar sozinho essas situações, como o que eu tenho feito agora.
O Canadá é um país maravilhoso com pessoas muito educadas, mas não é o paraíso, tem gente preconceituosa sim. Tem homens machistas, tem racistas, tem invejosos e pessoas ruim. É claro que tem pessoas maravilhosas também, a maioria dela, e naturalmente você vai identificando essas pessoas no seu caminho e se afastando delas. É o que eu tenho feito.
Eu decidi falar sobre isso no blog, porque as pessoas a vezes sonham em morar no Canadá e acham que a maior dificuldade é o frio. O frio sem duvida está na lista das 3 coisas mais difíceis pra mim, mas não é a primeira da minha lista. O idioma sem duvida é. O idioma faz com que eu seja menos do que eu costumo ser. Eu sou menos engraçada, eu sou menos rápida nas ideias e nas respostas, eu sou menos nas referencias culturais, eu sou menos articulada e no meu vocabulário, eu sou menos eu. Pense nisso como uma barreira que você terá que superar, principalmente se como eu você nunca estudo fora na adolescência e foi aprender inglês na marra na idade adulta.
Eu tenho medos, muitos. As vezes acho que nunca vou conseguir aprender. As vezes acho que meu otimismo é só uma autodefesa do meu subconsciente para continuar a luta. Tem vezes que a vontade e pegar o avião e ir embora para os perto dos meus. Mas a gente tem objetivo na vida, né? E só quem percorreu um longo caminho pra alcançar alguma coisa sabe o que é ter que desistir. Eu não vou desistir obviamente. Não fiz isso por coisas maiores do que uma piada de um infeliz. Chorei sim, ontem. Mas hoje eu já estou melhor e bola pra frente que a vida continua. Espero sinceramente que meu post tenha ajudado alguém e gente, sempre que um imigrante tristonho precisar, tamos aí! Deixe seu comentário, mande e-mail, comunique-se! O brigadeiro de panela eu garanto :D