Vontade de ir querendo ficar

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Quando eu vi aqueles olhinhos de jabuticaba ficando cada vez mais pequenininhos a medida que o ônibus se afastava da rodoviária, não tive dúvidas, a vontade de ficar era bem, bem, mas bemmm maior do que a vontade de ir. Meu coração ficou apertado enquanto as lágrimas insistiam em cair pelo meu rosto. Mal pudia responder as perguntas da senhora que sentava ao meu lado... "muito longe, estou indo para muito longe"... tenho certeza que ela estava tentando me acalmar...

Nessa hora eu entendi bem a teoria da relatividade e o tempo em espiral, como pode um mês passar tão rápido? Parece que foi 1 dia. Fiquei engasgada, soluços e lágrimas teimosas e um desespero no coração que insistia em ignorar a razão e pensava apenas na distância que só crescia bem diante de mim. Quando eu vou voltar aqui e ver a minha mãezinha?

Imigrar não é só enfrentar aquela terrível espera sem fim, chegar no novo país e começar tudo de novo, imigrar é aprender a conviver com a ausência.

Na mala vão poucas coisas. Parte das muitas outras que ficam a gente renega, de outras, desapega, mas outras são impossíveis de viver sem, e essas são as piores, porque são difíceis de embalar ou levar na poltrona ao lado. Para mim, sem dúvida, viver sem minha mãezinha aqui pertinho de mim é a mais difícil. Não tem frio, não tem falta de dinheiro, não tem idioma, não tem desconforto, nem vontade de comer um pastel com caldo de cana que não se resolva, mas substituir o convívio com quem se ama, isso é impossível.

A saudade é a maior das barreiras. As vezes ela é tão grande que dá vontade de gritar, as vezes dói tanto que não dá nem para falar. Mas nada que o tempo não possa curar, e com ele,  a saudade vai encontrando um cantinho ali, só dela, e a gente vai se acostumando, ou pelo menos, aprendendo a conviver com ela.

Mas não só de tristeza foi a minha volta, também foi de alegria. Vontade de ir para a vida que eu construí depois de tanta espera. Aqui estão os 12 meses de Canadá tão intensamente vividos, aqui estão os novos amigos e o novo país que eu descobri e aprendi a amar. Aqui está o meu amor que me recebeu todo bobo com um cartaz de boas vindas no aeroporto. Aqui está a primavera fazendo a transformação da vida bem diante dos olhos de forma mágica, trazendo um raio de sol que agora aquece o rosto e traz de volta o canto dos passarinhos. Aqui onde a vida se transforma, onde a vida acontece.

Aos outros sentimentos e coisas que me fizeram ter vontade de vir, mesmo querendo ficar, eu chamo de choque de realidade, mas como esse blog não é um blog tão poético nem tão pouco filosófico/sentimental, eu deixo essa parte para o próximo post para não estragar esse daqui, que está tão bonitinho, e eu prometo, vai sair bem rapidim.




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