Eu sou legal, pode conversar comigo

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Outro dia aconteceu uma coisa engraçada, peguei o metrô após o curso em direção ao centro, estava  distraída pensando na vida e tomei um baita susto quando de repente um estranho começou a falar comigo em português. Depois de um tempo a gente entra num sistema automático que com estranhos você não fala em português (não sei se isso é com todo mundo ou só comigo), além disso, eu havia estado falando inglês por mais de 4 horas seguidas, então quando o estranho começou a falar comigo em português eu fiquei estática sem saber em qual idioma eu iria responder.

Passados alguns segundos, meu cérebro mudou o sistema e eu respondi... "sim, sou brasileira". Era um rapaz bem simpático, conversador, e entre as estações Sherbrooke e Berri (uma distância de 2 ou 3 minutos) ele fez milhões de perguntas, tantas que eu quase não tive tempo de perguntar como é que ele descobriu que eu era brasileira, mas antes de chegar na estação onde eu iria ficar, perguntei, e a resposta foi: "Sua mochila, está escrito em português..." Então eu realizei: Essa mochila é a maior entregação... hahahahahahahahaha

Desci na minha estação e tive tempo apenas de dizer um tchauzinho, não perguntei o nome dele, de onde era, nada, apenas sei que ele estava aqui pra estudar por alguns meses porque ele falou. Segui o meu caminho mas fiquei com aquilo na cabeça, é realmente muito raro um brasileiro vir falar comigo assim tão espontaneamente e tão alegremente (e olha que eu desfilo pela cidade toda com a mochila entregação). Pensando cá comigo mesma, acho que algum brasileiro se aproximar assim tão espontaneamente só aconteceu duas vezes antes disso, quando eu estava em Ottawa e um grupo de senhores que estavam fazendo turismo viu marido e eu falando português e vieram se apresentar e no primeiro dia do curso de inglês quando um colega veio conversar comigo assim que soube que eu era brasileira. Fora isso, acho que nunca nem deram um sorrisinho do tipo "oi conterrâneo". Já aconteceu até de brasileiros pararem de falar quando perceberam que falávamos português, mudarem de cadeira no ônibus, de estudar na mesma sala por meses e nunca me dar bola, etc, etc, etc...

Isso me chamou atenção, conversei com outros imigrantes brasileiros (os que não tem problema em ser amigos de outros brasileiros) e com imigrantes de outros países, pra saber se isso já aconteceu com eles também, e descobri que eles já passaram também por isso...

Por que isso acontece? Não sei... já pensei que é porque a pessoa quer imergir no idioma (mesmo sendo imigrantes, ou seja, não é um intercambista que vai embora mês que vem), ou porque quer tirar uma de local e não se misturar, porque o sotaque mostra que não somos do mesmo estado, que a pessoa é um mala mesmo e não quer fazer amizade com ninguém nem ser simpático (e pra achar mala no caminho a gente nem precisa ir tão longe, não é mesmo?) e até que a pessoa não quer ficar de intimidade com um estranho, mesmo sendo irmãos de pátria. Uma conhecida que está aqui há mais de 15 anos disse que não fala com nenhum brasileiro que falar português perto dela porque é chato ficar dando pulinho e puxando assunto todo alegrinho com desconhecido na rua só porque a pessoa fala português "você é brasileiro, eu também sou!!!..."

Talvez ela tenha muita razão, mas é fato que não importa onde você está, quantas pessoas, quanto barulho, ou quanta distância existir, se alguém falar um "aí" em português, você escuta, e esse "ai" entra redondinho no seu ouvido e seu cérebro vai se sentir aliviado por não fazer força nenhuma em entender isso (só demora um pouquinho pra mudar a função resposta, no meu caso). Isso me deixa triste, porque eu sou muito conversadeira, gosto muito de fazer amigos, não importa qual é a nacionalidade ou naturalidade, estou sempre disposta pra uma tagarelice e acho até que quanto mais misturado, melhor. Você não adoraria conhecer gente de diferentes cantos do Brasil? Eu adoro!

Isso até já foi um fato pra colocar no lado negativo da balança. Eu não concordo muito em deixar de fazer um amigo porque a pessoa é brasileira, muito pelo contrário, isso ajuda a gente a se sentir melhor. A gente larga família, amigos, casa, emprego, tudo, e ter alguém que entenda a piada é se sentir um pouquinho mais em casa e menos saudade do que está longe (mas eu não estou apoiando um BrazilianTown, isso não é legal, eu só estou dizendo pra gente não se renegar, okay?).

Quando é inverno, a gente fica quetinho dentro de casa, assiste todos os programas de tv e meio que se conforma com a situação. Mas quando esquenta um pouquinho e se vê um monte de gente na rua, acaba ficando com vontade de sair também, fazer uma farofa no parque, jogar uma peteca, contar umas piadas e falar mal dos outros, mas muitas vezes fazer isso fica taummm difícil... aí bate aquela depressão pela falta dos amigos ou da família... Eu já pensei em várias soluções para isso: adotar um cachorro, porque eu tenho certeza que ele vai me dar atenção e sacudir o rabo freneticamente quando eu insinuar uma saída pra rua, já pensei em ir nas faculdades procurar quem queira dividir uma conversa metade português/inglês, já pensei em procurar um velhinho na fila do banco e até em mandar fazer uma camiseta: Eu sou legal, quer ser meu amigo? Mas até agora não tive recurso financeiro para adotar um cachorrinho nem cara de pau para mandar fazer a camisa.... rsrsrs

Então se você estiver andando por aí e encontrar uma mochilinha azul e branca, escrita em português e uma menina meia desengonçada com cara de boboca alegrinha e ainda quiser fazer uma caridade, não se acanhe, vá conversar com ela, ela vai gostar!


8 comentários:

  1. Oi,
    Adorei o seu post. Se eu te encontrar vou puxar conversa e dar pulinhos de alegria viu(rs).
    Chegarei em Montreal em Julho-12.
    Bjs.

    Cilei

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  2. kkkkk!!!!
    adorei...e sei exatamente o que vc sente!
    Ja imagino o qto será dificilm, pelo menos por um tempo!!!
    Bjos
    Darlene

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  3. Cilei,

    Pode puxar assunto, vc vai ver como eu não estou mentindo na parte da tagarelice! hahahahahahahahahaha

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  4. Darlene,

    sem dúvida o idioma e a distância dos amidos e da família é a parte mais difícil de superar...

    Mas quanto menos a gente espera já está fazendo novos amigos e está super feliz por estar fazendo mais uma conquista!

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  5. Como sempre, rachei de rir! Agora, a pergunta que não quer calar: por quê diabos brasileiros param de falar português quando escutam outras pessoas falando português?? o.O Tou chocada!
    Beijos,
    Lídia.

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  6. Eu adoraria conversar, então se vier pelas bandas de Gatineau, não se esconda atrás da mochila, avise para marcarmos um café :)
    Abraço!
    Pati

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  7. Confesso que tenho meus momentos mala. Ou mais malas que o mala normal, sei lá rsrs. Depende muito do contexto (ou dos hormônios, rsrs). Também gosto de tagarelar com um monte de gente de qualquer lugar, fazer amigos novos, independente de onde vem, gosto de escutar estórias novas e opinioes diferentes ou iguais as minhas, amo uma filosofia de boteco até longe dele. Mas recentemente por exemplo, fui fazer um curso de ingles e como meu cerebro é de ostra, tive que me recusar a conversar em portugues com os brasileiros da sala, pq se o prof colocasse para fazer trabalho com eles e meu cérebro ja tivesse registrado conversa com eles em português, eu nao ia conseguir virar a chave para o ingles jamais. Quando insistiram em falar em portugues, tive que explicar que meu objetivo ali era me libertar do meu ingles macarronico, entao que eu ia conversar em ingles, mesmo que tivesse que passar por "entojo", pois eu tenho limitaçoes para virar a chave. Fora que a gente mete o pau nos latinos que na francisacao ficam só falando com os amigos em espanhol e nao aprendem nada do fr, ficam falando "vo-dia-dijer" o resto da vida, entao nao da para morder a lingua e fazer o mesmo com portugues, né? Também as vezes vejo brasileiro "brasileirando" e eu nao tenho a menor vontade de falar com gente brasileirando, sejam brasileiros ou nao, rsrs...Também acho meio sem sentido a pessoa vir falar comigo "só" porque somos conterrâneos...Eu conheço um monte de conterraneos que sao legais e outros que nao suporto, entao o fato de ser conterraneo nao acrescenta em nada, gosto de conhecer e falar com as pessoas por diversos motivos, mas nao "só" por esse. Se bem que o fato da pessoa notar que vc. fala a mesma lingua sim, pode ser um fator inicial de uma amizade, mas acho que deviamos puxar conversa assim com qq nacionalidade.
    Tem gente que ja chega perguntando "vc. vem de onde?", e se nao sou da mesma naturalidade, pronto, a pessoa ja muda a cara. WTH, rsrs?

    abraços
    Erika

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  8. Nossa, eu tenho uma mochila que tem até a bandeira do Brasil na etiqueta dela, sem falar na havaiana com a bandeirinha do Brasil também, então acho que só estou perdendo para quem usa camisa e boné do Brasil. =)

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