Eu também mudei!

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Então, eu ouvi o conselho da minha amiga dona desse blog e também resolvi mudar a minha vida.

Da decisão

Dos fatores que me trouxeram ao Canadá foram muitos. Já era tempo em que eu pensava em imigrar ou pelo menos viajar e morar fora por um tempo. Aos 15 anos eu tentei ir para a Inglaterra de intercâmbio. Tinha lugar para morar e comer, pois minha melhor amiga tinha se mudado para lá e seus pais me convidaram para ficar uns meses. Contudo, meu avô adoeceu na época e fundo de emergência foi usado. Então minha viagem foi postergada pela primeira vez...

Da segunda vez eu acabara de ser demitida da empresa que fabrica aeronaves no Brasil por conta do episódio do World Trade Center. Com uma rescisão razoável e uma prima distante morando em Londres eu cogitei a possibilidade. Infelizmente não rolou, pois essa prima descobriu que estava grávida e portanto não poderia me receber.

Depois de voltar de Porto Alegre, já com um bebê no colo eu pensei na possibilidade de imigrar para o Canadá. Era 2008 e a crise financeira dos bancos fizeram com que o governo canadense fechasse as portas para o processo imigratório federal...

Então fiquei eu no Rio de Janeiro mesmo, trabalhando para uma empresa que tinha o melhor ambiente de trabalho que eu poderia encontrar, mas o salário não era grande coisa. Fiquei lá por 4 anos até que a empresa decidiu fechar o escritório do Rio e eu fiquei com medo de ficar desempregada. Fui tentar arrumar outra coisa e consegui um emprego (ganhando bem mais) numa grande empresa de telecom. Acontece que eu não tinha ideia do que estava me esperando. Um ambiente de trabalho deveras competitivo e individualista, fornecedores brigando por projetos feito urubus com carniça, alguma corrupção velada em projetos, desorganização, stress, muito, mas muito trabalho extra. Isso sem falar da chefia e do desrespeito com os funcionários. Tudo absolutamente errado. Eu me tornei uma chaleira em ebulição e tudo o que queria era fugir correndo dali.

O trabalho foi responsável digamos 60% da minha vontade de fugir, mas não vou dizer que o caos instalado no Rio por conta dos eventos estrangeiros também não tenha sua cota de responsabilidade. Circular na cidade ficou impossível. 4 horas gastos por dia no trânsito. Todos os lugares abarrotados de pessoas e o calor... Ai, o calor carioca é um versículo a parte. O Rio ficou sem espaço e o carioca não sabe lidar com stress. O verão se tornou a filial do inferno e o carnaval o caldeirão do diabo. Respirar, eu precisava respirar...

Pois então eis que surgiu a possibilidade. Eu recebi até uma proposta de emprego interessante, mas minha cabeça não estava mais nos trópicos. Estava mesmo no norte e na possibilidade de trabalhar com cinema. E na possibilidade de voltar a estudar. E em possibilidades... Desisti e apostei num processo temporário como estudante e trabalhadora. O visto foi aprovado. Demorou aproximadamente 2 meses para ficar pronto e assim, rapidamente eu juntei minhas coisas básicas, deixei o apê com uma amiga, o maridão e a filhota na casa da sogra. E aqui estou eu!

Da viagem


A ansiedade em viajar foi grande. Me lembro de ter tido muita dor de cabeça antes de vir, não consegui dormir enquanto aguardava o visto. Mas enfim eu entrei no avião da Delta com destino Rio-Atlanta-Toronto. A viagem Rio-Atlanta foi tranquila. A companhia aérea era boa e fiquei comendo o tempo inteiro. Obviamente não consegui dormir, pois nunca consigo sequer cochilar sentada, mas pelo menos o vôo não estava tão cheio e eu fiquei com duas poltronas só para mim...
Chegando em Atlanta tive que passar pela alfândega americana. Foi na mesma semana que o atentado de Boston, então você deve imaginar como estavam os "respeitosos e educados" guardas alfandegários. Minha passagem era apenas de conexão, mas o guardinha me fez várias perguntas do tipo:
- Por que você está indo para Toronto?
- Para estudar inglês.
- Inglês em Toronto?
Minha vontade de responder era:
- É. Você não sabia que se fala inglês em Toronto?
Mas eu disse:
- É. Minha passagem é apenas de conexão.
Guardinha:
- Mas por que o Canadá e não os EUA?
Minha vontade de responder era:
- Porque o seu país nem sempre trata o meu povo com respeito.
Mas eu respondi:
- Estou indo para Toronto porque eu também vou fazer turismo e visitar alguns amigos.
E aí o moço bem humorado as 5 da manhã me deu o carimbão... Mais aliviada fui eu passar pela a humilhação do scanner e revista de bagagem de mão. Na correria eles pediram que eu retirasse o notebook da mochila. Na hora de pegar os pertences, colocar os sapatos e se recompor como cidadã eu esqueci o computador.
Acontece que o aeroporto de Atlanta é tão grande que você precisa pegar um metrô entre um portão de embarque e outro. Eu já estava no meu portão de embarque, no outro lado do aeroporto quando me dei conta que havia esquecido o meu computador na revista alfandegária. Fiquei muito nervosa! Todos os meus dados, informações bancárias, imposto de renda, filmes, skype, currículo estavam no meu notebook! Como fazer? Lá fui eu, pegar metrô, andar muito até voltar a revista. Chegando lá eu perguntei onde ficavam os objetos esquecidos e uma mulher me orientou a ir para as latas de lixo. Pois é, eles jogam fora todos os objetos esquecidos, pois todos são possíveis "bombas". Ô povo neurótico! Eu perguntei para um dos oficiais e ele perguntou como era o meu notebook e eu descrevi. O note por sorte ainda estava na pilha a caminho do lixo. Eu disse que era o meu computador e ele ligou, perguntou qual era a pessoa do login, que tipo de sistema operacional, revisou o computador e enfim me entregou (eu com essa cara toda de terrorista de jardim de infância que eu tenho, certo?). Fiquei mais aliviada naquele momento e lá fui eu procurar o meu portão de embarque novamente com o "trem da alegria". Ainda bem que tinha uma diferença de tempo entre um vôo e outro.

Curiosidades enquanto eu aguardava o vôo para Toronto:


1. A tv estava no canal do tempo. Enquanto era exibida a massa de ar frio vinda do atlântico uma voz narrava os horrores do atentado de boston e como a CIA estava investigando os terroristas. Tudo narrado com uma voz sensacionalista tipo o Datena. Eu fiquei horrorizada. Até o canal do tempo te faz sentir ameaçada.
2. O atendente da cia aérea parecia o Ray Charles. Ele tinha o mesmo jeito do músico, exceto o fato de não ser cego. Com um sotaque com muito suíngue eu quase não entendia o que ele queria dizer. Toda hora ele pegava o microfone e ficava falando coisas aleatórias sobre o vôo. Acho que era um certo tédio, ou alguma frustração em ser apresentador ou radialista talvez.

Minha aeronave da Bombardier chegou. Era uma CRJ200 e eu só sei esse detalhe porque a Bombardier era a principal competidora da empresa brasileira quando eu trabalhava lá. De qualquer forma o vôo apesar de atrasado foi tranquilo. Eu não sabia exatamente como preencher a folha de embarque de bebidas alcoólicas necessárias na alfândega canadense (eu estava trazendo uma garrafinha de cachaça e uma de vinho para meus respectivos amigos brasileiros). Na alfândega canadense eu fiquei realmente ansiosa. Não sabia responder as questões necessárias sobre o meu visto. Além disso eu também estava cansada e nervosa por conta do episódio do computador. O guarda da imigração que era canadense e muito simpático me informou que eu deveria seguir para uma outra sala para mais informações. Ao final ele disse: - Obrigado.
Eu sorri e segui para a salinha decidindo que não falaria nada além do que me perguntassem. Eu tenho esse problema que quando eu fico nervosa eu desando a falar e rir...

Então o oficial me perguntou o que eu estava indo fazer por lá e eu disse que estava indo estudar e trabalhar. Ele me perguntou se era um holliday program (e eu não sabia a resposta). Eu disse que tinha a carta da escola e entreguei ao oficial. Ele olhou preencheu meus dados no computador, imprimiu umas 15 vias, carimbou, grampeou e me entregou de volta o passaporte. Eu segui, esgotada, aos trapos para a saída do aeroporto.

E aí, achou que a história acabou? Não... Ainda tem mais.

Do táxi:


Cheguei enfim em Toronto com a autorização de permanência. Não entendi exatamente o tipo de visto que tinha sido emitido o que me causou um certo medo. Eu estava muito cansada e um pouco perdida. Eu tinha que pegar o ônibus e um metrô. Cheguei até comprar a passagem mas eu estava com duas malas grandes, mochila e bolsa. Até que enfim um homem me perguntou se eu precisava de táxi. A princípio eu disse que não. Depois eu fui falar com ele e perguntei quanto seria a corrida para o endereço que estava informando. Ele disse 40 dólares e eu disse ok. Ele pediu que eu o acompanhasse.

Então eu segui o senhor. Ele tinha um carro estacionado no estacionamento do aeroporto. Não era um táxi cooperativado nem nada. Eu juro que naquele momento eu pensei duas vezes e me lembrei das várias vezes onde me dei mal na rodoviária novo Rio. Fiquei com bastante medo.
Foi então que o sr. Indiano partiu e seguimos para a casa da dona desse blog. O endereço era novo e difícil de se pronunciar numa mistura de Inglês/Francês quebequense. Tínhamos quatro experiências culturais distintas nessa situação. Um taxista indiano que não tinha GPS, apenas um livro antigo com as ruas de Toronto; eu sem telefone ou GPS; uma rua com um nome em francês e eu tendo que pronunciar o nome em Inglês...
O indiano não me entendia e não conseguia achar a rua. Rodamos um tanto. Ele parou num lugar para pedir informação. Ninguém conhecia a rua. No desespero o taxista tentou ligar para a dona desse blog pedindo informações. Não conseguimos contato e ele deixou um recado. Foi então que ele decidiu dar mais uma volta por outro caminho e enfim encontramos o local.

Eu fiz o pagamento acordado (sem gorjeta que é extremamente rude, mas vamos combinar o cara era ilegal e ainda não tinha GPS). Peguei minhas malas, peguei a chave na portaria e subi para o apartamento. Chegando lá eu liguei para casa chorando. Parece que todo o nervosismo que eu tinha passado até ali se solidificou em pânico. Meu psicólogo preferido me atendeu e me socorreu. Aliviada eu desliguei o computador e tirei um grande cochilo. Quando acordei com meus amigos chegando e me recebendo de forma tão carinhosa eu sorri, pois eu estava no Canadá.

7 comentários:

  1. Bem Vinda!!!!!
    Ótimo post, consigo ouvir sua voz contando toda essa história ao ler cada linha. O que não foi perdoável nisso tudo foi o indiano sem GPS, com certeza imperdoável! hahahahahahahahaha

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  2. Gostei muito do post!
    Boa sorte nesta nova empreitada!

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  3. Muita coragem, vir sem o filhote e o maridão... Parabéns e bons estudos..

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  4. Que linda!
    Chegar aqui foi difícil para mim também. Linda sua história Dani. Que bom que voce a contou!
    Bem-vinda ao Canadá

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  5. Não sabia que as coisas esquecidas na revista nos Estados Unidos iam pro lixo...
    Parabens e sucesso !

    abraços;
    Catherine
    http://meetyoutherecanada.blogspot.com.br/

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  6. NOssa que sufoco!
    Que horror quase jogam seu pc no lixo.

    Parabéns pela coragem, vc foi sem sua filha.

    Boa sorte e sucesso!

    Abraços, Izabel
    www.blackbirdbebrave.blogspot.com.br

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  7. Uau! Parabéns pela coragem de ir sozinha!
    Boa sorte!!!

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