O apartamento novo

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Sujinho é coisa do passado, agora estamos no novo, definitivo e limpinho apartamento. O apartamento novo não tem nada de tão interessante que merecesse um post exclusivo, but o caminho para chegar até ele, tem! Envolve uma questão cultural, coisa profunda mesmo.

Montreal é uma grande e organizada torre de Babel como vocês já sabem. Talvez o fato da bilinguilidade favoreça essa mistureba toda (nossa, baixou o Caetano Veloso agora...rss). Na hora de procurar apartamento tivemos a oportunidade de ter contato e entrar nas casas de alguns desses filhos de Babel. Encontramos todos os sotaques possíveis e imagináveis: Italianos, Chineses, Mexicanos, Ilhas Mauricianos, Sri Lanquenses e lugares que a gente nem sabia que existia, uma incrível experiência cultural, transcendental, social e saia-justal (olha Caetano de novo) do qual nunca imaginávamos que poderiamos passar.

Quem já foi visitar um apartamento para alugar ou comprar, levanta a mão? Todo mundo, né?... Agora levanta a mão quem sentou no sofá, comeu bolo de chocolate e tomou chá com o morador, levanta a mão...ninguém, né?... Foi o que imaginei... rsss

Transferências de contratos são comuns aqui, visitar um apartamento com o cidadão morando nele é mais comum ainda, e vou te dizer, que situação é entrar no apartamento e dar de cara com a tia Maria de camisola no sofá vendo tv... Chegamos nesse como tantos que já havíamos ido, olhando o hall, os moradores, as instalações, tudo que um ser humano normal faz quando vai visitar um apartamento para alugar. Era transferência de aluguel, logo os moradores estavam no imóvel, mas até aí tudo normal. Quando entramos no apartamento, a primeira surpresa, a família era Árabe. Tá, vai... disso a gente já suspeitava já que o nome de contato no anuncio era Mohammed (nome fictício para preservar o personagem) mas daí a esperar que a senhora Mohammed viesse nos receber coberta dos pés a cabeça, aahhh...não mesmo! Toda de preto ainda? Primeiro choque cultural (pra gente, claro). Husband grudou no meu braço e disse baixinho (em português, claro) "um fantasma". Me segurei para não rir. Mas a situação era delicada, eu nem sabia se eu podia falar com ela! Eu me sentia uma espetaculosa. A única ali a mostar os cabelinhos ralos e fazendo exposição da fígura assim, desse jeito! Não estava certo, eu me culpava...

A comunidade mulçumana é grande aqui, então tem muita mulher na rua usando o véu (até quando eu não sei... num país feminista como esse, não demora muito as novas gerações rasgam esse véu, igualzim Samira). Mas ver na rua é uma coisa, entrar na casa de uma é outra. Não teve jeito, Jade e sua turma vieram à minha cabeça e todos aqueles bordões que nós brasileiros adoramos. Sem saber o que falar nem o que fazer quase soltei um "Salamaleico", achando que estava abafando... ainda bem que tive um minuto de sanidade e me calei... rsss

Depois de olhar tudo, ou seja, dois minutos e meio depois, empurrei husband porta a fora: "Yálah, Yálah", mas o famigerado filho de Allá resolveu nos convidar para se sentar e explicar todos os detalhes do aluguel. Como assim, gente? Não podia fazer isso de pé, falar rapidinho, tipo, se eu ficar com o apartamento, ele explica, né? Mas não deu pra dizer não. Num sei, alguma coisa me dizia que isso era cultural... e ninguem ali queria ver o rosto do Mohammed sendo arrastado pela Medina, não é mesmo? Então... sentamos. Sem ter muito o que falar, nos despedimos e nos levantamos pra ir embora rapidinho, mas Mohammed disse que não podíamos sair sem que eles nos oferece alguma coisa. Oi? Eu bem que vi numa mesinha ali do lado, um monte de comida, mas daí a achar que ele ia me obrigar a aceitar oferecer alguma coisa...  Eram coisa simples mesmo, pizza, bolo, biscoito, suco, café, chá, sorvete, acho que tinha até tabbouleh, baba ghanoush, hommus... claro que como bons brasileiros que somos, usamos toda nossa "educação suiça" e dissemos não... imagina... não se incomode... obrigada!

Pelo profeta! Senti que tinha cometido um Haram, dos grandes! Cultura... coisa da cultura... vamos aceitar isso, vamos comer qualquer coisa, torcer pra que não tenha pimenta, é rezar para que Allá nos livre do mármore do inferno!

Aceitamos um pedaço de bolo com suco, e por alguns segundos eternos ficamos ali, sentados naquele sofa, com o bolo na mão, olhando um para a cara do outro, sem saber o que fazer tão pouco o que falar. Eu comia mas o bolo não acaba. Só conseguia pensar nos homens bombas, nos ataques terroristas, no Obama jogando o Osama no mar! ... Allá que nós proteja!

E assim, como cachorro magro, e acreditando fielmente que nas árabias não se conhece esse ditado, dissemos que tínhamos outro apartamento para visitar no outro lado da cidade (foi a primeira coisa que me veio a cabeça gente, o que eu podia fazer?). Mas que idéia mais medíocre! Mohammed, o bom homem do deserto, preocupado com nossos poucos meses na imensa ilha Montreal, prontamente ofereceu-nos carona. Né brinquedo não! Como fazer Mohammed entender nossa situação? (leia-se cultura)

Mas aí aceitar carona no primeiro encontro, já era demais! Agradecemos muito e recusamos a gentileza. Tinha que ser, né gente? Como iamos parar num lugar que nem existia??? rss

Depois que tudo passou e pudemos refletir sobre o ocorrido, chegamos a conclusão que tudo isso fazia parte da cultura. Ficamos impressionados com a gentileza que fomos recebidos pela família que nunca havia nos visto antes. Brasileiro é muito desconfiado mesmo, cruz cedo... a gente vive numa cultura do "se dar bem", aí chega uma pessoa gentil e a gente fica assim, apa-vo-ra-dos! Tá errado isso... (eu me culpando).

Lá no começo, eu dizia que estar aqui implica em aprender e conviver com diferentes culturas. Cultura do país em que se escolheu para viver e cultura dos outros que também escolheram estar aqui. Isso tudo é muito legal, agradeço muito a Allá, quero dizer... a Deus,  por estar vivendo essa misturalidade cultural (ó, Caetano) e pedindo também que a minha seja aceita sem preconceito. E se todo povo árabe é assim, eu não sei, mas esse povo subiu de nível no meu conceito gentileza. Talvez nem seja bom generalizar, mesmo que seja para o bem (olha o carioca desconfiado aí de novo).

Quando saímos, Mohammed disse que só naquele dia 5 famílias já tinham ido visitar o apartamento, inclusive uns chineses com 5 filhos... Agora eu te perguntou, caro leitor, Mohammed, o generoso, e sua esposa fantasma, ofereceram lanchinho pra esse povo todo? Insha'Allah!

3 comentários:

  1. Para que venham inumeros posts sobre a nova casa, recomendo os sites:
    http://www.casadevalentina.com.br/hotsite/
    http://www.casachaucha.com.ar/
    http://www.decoeuracao.com/

    Afinal cancerianos adoram a caverna em que moram.

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  2. ADOREI!
    E nessa caverna aqui tem dois cancerianos, né... rss

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  3. Adoro, ler seus post, vc é muito engraçada.Mesmo nos momentos ruins vc ainda faz graça.Parabéns e muitas felicidades na vida de v

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